Você acredita em transformação açucarada?
- Marcela Rolim
- 26 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de abr. de 2020
#psicanálise #autoconhecimento #verdade #mudança #comportamento #padrões #transformação #ladosombrio #coragem #olharinterior

Não faz muito tempo, pra falar a verdade foi por agora, logo após o dia das mulheres, que pude receber de presente o vídeo da psicanalista Maria Lúcia Homem, onde ela nos convida para uma reflexão da frase de Clarice Lispector “A vida é um soco no estômago”. Logo de cara, pensei: “Pra mim, literalmente uma porrada!”. Compartilho o vídeo ao final deste post.
Clarice sempre me surpreende com suas frases fortes, impactantes, que chegam a doer! É por isso que ela é pra mim a melhor escritora! (tenho até uma frase dela tatuada em meu corpo). Todos somos um pouco masoquistas, se analisarmos a percepção freudiana que há, também, o gozo quando nos colocamos em situações que nos façam sentir dor. Mas quero focar aqui no que a Clarice representa pra mim, em meu processo de autoconhecimento, com suas colocações profundas e sem nenhum massageamento egoico.
“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca” Clarice Lispector
Passei por diversas abordagens terapêuticas e, já sinalizei, em outros posts, que cada uma delas teve papel importante em meu caminhar. Mas foi só quando eu aprendi a abrir mão da figura ideal ou idealizada de mim mesma, e isso se deu na psicanálise, que pude me perceber em transformação. E, digo mais, procurei a análise quando senti o meu mundo desabar, desmoronar, onde eu me via perdendo o rumo das coisas e de mim mesma. Foi, ao navegar as margens obscuras do meu ser, com a ajuda da minha psicanalista Carol, que eu senti a dor, a porrada no meu estômago!
A psicanálise, e mais uma vez falo por mim, através das minhas experiências pessoais, vai ao oposto do discurso “pense positivo”, “mentalize coisas boas que você consegue”, “acredite em você” e blá blá blá. Até utilizei, e utilizo, de técnicas de afirmações positivas, mas isso aliado às minhas sessões de análise. Notei que só abandonando um discurso agradável de mim e assumindo minhas próprias verdades era possível eu me tornar quem eu tanto desejava, que nada mais era do que aquela fala ideal que eu fazia a meu respeito.
Onde tem dor, o que nos tira do prumo e do eixo, tem uma verdade! Conforme Maria Lúcia “A verdade não necessariamente é da ordem do aprazível, do imaginário do bem” (Ah, como fiquei encantada com essa mulher!). Se a gente não assume o que, de fato, é nosso, se a gente não assume as nossas fraquezas, os nossos padrões adoecidos, e até os gozos que temos, de alguma maneira, como ganho secundário, dificilmente, acho que quase improvável, conseguiríamos nos colocar de outra maneira no mundo. Digo isso porque antes da psicanálise eu percebia mudanças de comportamentos naquele momento pontual que me fizera procurar ajuda, mas me via repetindo o mesmo padrão, mais à frente, em outras situações.
Eu tinha, à ponta da língua, um discurso que todos os meus “escorregões” advinham de algum motivo externo. A minha fala era sobrecarregada de reatividade, de defesa, de desculpas, de auto sabotagem, de vitimização, e eu não queria entrar em contato com a verdade. No fundo, no fundo, eu sabia, não na totalidade porque eu ainda não tinha conteúdo interno pra isso, que eu estava vivendo sob um padrão montado, ideal, apenas de figuração. Até que CANSEI! Cansei porque eu estava em ruínas e eu não tinha mais a possibilidade de viver sob uma farsa.
Assim começou a minha transformação. Com muita dor, mas em contato com muitas verdades! E o melhor disso tudo foi descobrir que o lado sombrio é inerente ao ser humano, cada um com as suas questões. O que nos torna diferente é a coragem de olhar para dentro e poder trabalhar arduamente aqueles afetos que dominam a nossa vida. Eu tive essa coragem, percebo mudanças significativas e lindas em mim e sei, com clareza, o que é meu e o que é do outro. Mesmo que eu ainda me pegue ansiosa por querer mais e mais mudanças, eu sei que estou no caminho que tanto desejo e que tudo depende única, e exclusivamente, de mim. Cabe a mim a mudança em mim, e nunca no outro (e atualmente trabalho para direcionar minha energia vital ao que posso fazer por mim!).
Comments