top of page

Para deixar um comentário no post registra-se aqui ou vá até o final da página e faça o login  no campo disponível. É fácil e rápido!

O amor nos tempos do eu

  • Foto do escritor: Marcela Rolim
    Marcela Rolim
  • 13 de mai. de 2021
  • 3 min de leitura

"Não fosse isso


e era menos


Não fosse tanto


e era quase" Paulo Leminski

Há dias tenho vontade de escrever sobre o que seria amar em tempos do eu e já confesso o quão difícil é discorrer a respeito. Por que será que relações se tornam tão efêmeras nos dias atuais e, mais ainda, por que muitos de nós não liberta a cultura narcisista e se coloca no lugar do outro?


O mundo pós moderno traz relações onde o individualismo e a falta de empatia norteiam a convivência, seja ela com quem for. As relações, principalmente amorosas, tem se tornado cada vez mais fugazes e descomprometidas, desconsiderando a construção de vínculos, onde o deletar fica sendo a opção mais fácil antes de tentar olhar para si e fazer o exercício da auto análise ao se perguntar qual é a responsabilidade que tenho na desordem da qual eu tanto me queixo ou que tanto se queixam de mim.


Para Freud, o exercício de se perceber, de se apropriar do que somos e, principalmente, do que fazemos é um dos maiores e melhores investimentos que podemos proporcionar a nós mesmos. Quem pode desfrutar de uma auto análise recebe de presente a percepção de si, do todo e do outro, fazendo uma avaliação mais bem elaborada dos fatos a que estamos inseridos. Isso permite com mais fluidez nos colocarmos no lugar do outro, a partir da lógica que, ao fazermos esse exercício, permitimos às relações mais saudáveis.


Mas, como em tudo na vida, há uma linha tênue entre até onde vai o nosso olhar para o outro e o nosso amor próprio. É preciso saber dosar e ponderar, sem ferir o amor e respeito por nós mesmos. Se colocar no lugar do outro significa ter a capacidade de olhar sob outra ótica, sob outra possível versão de entendimento e compreensão, a partir do momento em que percebemos que estando nós naquela posição tal situação também não nos faria bem. Isso é ter empatia pelo sentir do outro. Mas, toda relação é uma via de mão dupla, e não podemos nos demorar em lugares onde não somos vistos, quistos e acolhidos.


Será que estaríamos em uma era do fim do amor romântico? Ocorre que estamos numa busca incessante da individualidade, onde a grande viagem do ser humano é para dentro de si mesmo. O egoísmo se sobressai e a percepção pelos anseios do outro vai ficando cada vez mais distante. E, entre os desejos contemporâneos, preservar a individualidade começa a ser fundamental para a existência. Assistimos a grandes transformações e tudo indica que a aspiração por liberdade começa a predominar.


Sem muito me alongar, termino meu texto dizendo que pra mim o relacionar-se nos dias atuais seria, antes de tudo, um resgate a si próprio para que possamos entender quem somos, como reagimos e o que temos que mudar. A partir daí temos mais saúde mental para também entender o que é do outro e o que lhe aflige. Relacionar-se nos dias de hoje é, sobretudo, entender que o amor é uma conquista diária, não advém de uma “flecha de cupido” com receitas prontas e fáceis. Relacionar-se é se colocar na pele do outro e perceber a dor em nós, é viver o amor entendendo que ele precisa ser cultivado, é lutar enquanto ainda há espaço para lutas.


Por Marcela Rolim

1 Comment


Ary Lopes
Ary Lopes
May 13, 2021

Excelente! Adoro ler seus textos...parabéns!

Like
bottom of page